Blog do escritor Ferréz

Revolta (Ferréz)

Revolta

Esse texto pra quem me conhece é sem novidade, mas pra quem só conhece o Ferréz escritor pode estranhar, mas como nunca tive compromisso com mentira, de vez em quando agente tem que desabafar mesmo, eu só sei fazer isso, digitar, então dê sua opinião ai e some nessa idéia.
O Itaú cultural me mandou um livro: histórias de mapas, piratas e tesouros, eles me mandam para eu enviar para o Interferência, meu projeto aqui na quebrada. Acho que sou ignorante ou talvez eu seja burro mesmo, pois não entendi as belas fotos de um homem pelado, com o cu para cima e dentro de uma cadeira, por via das dúvidas não vou mandar esse livro para a biblioteca que cuido, pois acho que as crianças estão precisando de ter contato com cultura, não com homem pelado e foto de buraco sendo cavado, como diz o Datema – Alguém me ajuda ai pô!
A coisa anda a milhão e de um evento para outro, a maioria num tem cachê, nem transporte, mas agente escolheu essa vida, então poucas vezes dizemos nos damos ao luxo de dizer não, de um corre para outro acabo num sarau e sou obrigado a ouvir groselha, uma mina que nunca vi em caminhada nenhuma questionando minha participação no evento Estética da Periferia.
Perante tanta pergunta respondi que fui um contratado, sou palestrante então eu vou a muitos eventos, alguns pagam, outros são beneficentes, mas ela não se convenceu e argumentou contra o evento, falei do trabalho da Ação Educativa, que apóia uma pá de gente de quebrada, inclusive vários estavam lá no dia do sarau, também falei do Centro Cultural da Espanha que também são parceiros do evento, e tem vários trabalhos de fomento a cultura, mas ela insistia em argumentar que era estranho um evento daqueles.
A real é uma só, tem espaço para se fazer muita coisa, mas a bancada de críticos é mais eficiente, agente tem apontador, tem gerente, tem fiscal, menos executor, para fazer os trampos, executar não tem prioridade.
É bom ter debate, mas porque não colou no dia do evento para falar? Vários que foram tiveram espaço e acabaram falando o que pensavam, como é o caso do Wagner do sarau na brasa.
O debate rolou sobre o nome do evento, sobre quem participou, eu num agüentei sai para fora e tive vontade de perguntar se na minha barriga tava escrito – Balcão de reclamação.
Agora pensa cá comigo, o cara sai de casa numa quarta, como é o casa do Sérgio, ou numa segunda como é o caso do Binho, convence o dono do bar a dar o espaço, coloca o som, chama as pessoas, dá o microfone, público, banheiro, status, argumento, poder, amizade, e o que ganha? O cara que tanto pediu o espaço é um F.D.P e na primeiro oportunidade fala mal do cara, gente! Vamo abri o bizóio, a cena tai, valoriza o que agente construiu e ajuda a pelo menos manter, ou pelo menos não tumultua o barato.
Ou então vai na Vila Madalena, que lá eles estão até fazendo protesto para que o metrô não consiga chegar lá e trazer todo “tipo” de gente. Você num vai ter vez nem pra recitar no banheiro.
O nosso espaço é construído com luta, tapas, ameaças, suor, cabeçada, esforço, encrenca, ai o cara cola, recita, canta, fala uma pá e ainda quer pegar agende de refém, quer cobrar isso e aquilo?
Quando colar aqui, sendo o que for, artista, twiteiro, amigo virtual, revolucionário de fim de semana, cola e respeita a grade, e faça o favor de não forçar gíria, de não pagar de malandro, seja você mesmo pelo menos.
E os caras daqui que não tem envolvimento social, fica na moral, porque se eu começar a falar a real, dizer quem hoje mora mesmo na perifa, ai o bicho pega, porque só eu num tenho muitos vizinhos de cultura assim não.
Tem um pilantra ai, que se ofereceu para cantar aqui, queria até chamar o evento de festival Literatura Marginal, eu disse bem claro pra ele que quando eu morrer ele pode fazer o evento, pois em nenhum lugar do planeta a pessoa é assim, parece que perifa é casa da mãe Joana, todo mundo cola e quer tirar casquinha, cheio de alpinista social em tudo que é evento.
Tem documentarista, que só cola quando vai filmar, tem escritor que só cola quando quer prefácio em livro, tem músico que só cola quando quer letra.
Eu to hoje com 158 crianças na Ong do Jardim Comercial, num foi revolucionário lá nem sequer para conhecer.
Compramos 400 ovos de páscoa, ganhamos mais 80 das pessoas do Metodista, mas graças aos revolucionários que não chegam com nada, centenas de crianças ficaram sem nada.
Você não sabe como é ter que dizer que pra uma criança que acabou os ovos.
Eu e o Negredo já tamos a dias resolvendo problema de festa que nem aconteceu ainda, porque com o governo do Kassab tá impossível fazer algum evento.
Meu livro novo tá parado, mas os pedidos em escola pública lota meu e-mail, o cd de rap que eu tava fazendo, esse eu arquivei, mas os problema de fulano e ciclano agente que resolve.
Você sabe o que é acordar de manhã e dormir a noite e durante todo o dia a única coisa que você ouviu é – Me dá, me dá, me dá,? Eu sei.
Chapa, revolução de boca tem de monte, vai fazer que nem o Buzo, que traz um monte de gente, que abri um monte de espaço, que faz do modo dele, o possível e impossível. Que nem o Alan que montou uma editora, que nem o Sérgio que faz as palestras nas escolas formando público, que nem o Marcos Teles que dá oficina pras crianças na Coopermusp, faz alguma coisa, que ai o lado crítico fica mais ocioso.
Você quer odiar alguém? Você quer motivos para ter nojo, para reclamar, para ter ódio, num culpa agente não, pois nós camelamos o dia todo, se eu não vender roupa eu não tenho nem o do sal, se o Sérgio num palestrar também, se o Buzo num vender livro também, então na moral lê o texto abaixo e direciona seu ódio pra isso.
Eles vão trazer o mundo Disney para o nosso país, é disso que precisamos, pois não temos cultura enlatada suficiente por nossa goela abaixo.
Depois do caso Bethânia, que vai captar R$ 1,3 milhão, o Minc divulgou novos artistas beneficiados pela Lei Rouanet, que permite a captação de recurso via renúncia fiscal.
Entre os quais o poderoso império americano Disney on Idce, com (R$ 5,11 milhões), os shows da dupla estrangeira Blue Man (R$ 3.751.150,00) e os grupos Timbalada (R$ 978.936,00) e Revelação (R$ 189.696,00). Juntas as apresentações ultrapassam R$ 10 milhões, enquanto outros projetos menos conhecidos não conseguiram aprovação para correr atrás de investimento privado.
Agora veja o que diz o secretário de Fomento e Incentivo à cultura Henilton Menezes.
"Os projetos aprovados são de gente famosa e não famosa. Não existe essa separação de aprovar apenas as propostas de quem é conhecido ou tem mais visibilidade na mídia. Os pareceristas da Comissão julgam pelo projeto em si. No caso do Disney On Ice, o valor de mais de R$ 5 milhões foi aprovado porque ficou comprovado pelo orçamento do grupo que aquele era o valor necessário para realizar o espetáculo. É uma apresentação cara, porque são muitos integrantes. Os espetáculos ou turnês que não foram aprovados tiveram algum problema com documentação".“Não trata-se de patrocinar a Disney. Nós autorizamos um produtor brasileiro a organizar apresentações destes grupos no Brasil, porque a lei autoriza dar ao público brasileiro o direito de apreciar as produções culturais estrangeiras",
Só para deixar claro, o Timbalada, que conseguiu captação para R$ 1 milhão para gravar um DVD, não vai vender ele por dez conto em eventos que nem agente faz em sarau e palestras, o Revelação que deve receber R$ 200 mil não vai fazer shows na quebrada, eles vão cantar em Guapimirim, interior fluminense.
E o Balé caro da Disney? Alguém ai quer ver na quebrada? Que nada, vai pagar e muito caro para assistir meu parceiro.
Viva a cultura de periferia.
Mais ação e menos conversa.
Ferréz

11 comentários:

Diego disse...

Salve!!
As críticas sempre vão existir. Nosso movimento não é isento de contradições. Mas não é qualquer um que pode criticar. E também não pode fazer isso de qualquer maneira. Você está correto Ferréz! quem é a pessoa que critica e qual o seu envolvimento com tudo o que está acontecendo? até para se considerar um observador é necessário tirar a bunda da cadeira e desligar a televisão. As vezes damos muita atenção a quem não tem moral para recebê-la. Continuemos atentos aos nossos objetivos, atentos a quem nos interessa, seja do lado de cá ou de lá da ponte.
Forte abraço,

Diego
Coletivo Cultural Poesia na Brasa

Anônimo disse...

É isso ai meu camarada tem muita gente que só sabe falar mas não move um dedo para ajudar, só sabe das dificuldades enfrentadas para se manter um trabalho que nem o teu quem está de dentro. E é verdade tem um montão de gente que é que nem político ruim só aparece pera tirar proveito da situação, aparecer, ganhar uma grana e só. Investimentos reais só naquilo que der retorno pra eles. Que DEUS te abençõe muito.

Tião disse...

Pô cara. Vc tem toda a razão. Gostaria de trocar ideia com vc aqui em BH, na sua apresentação no Barreiro.

disse...

Filosofia de vida, serve pra gente separar o joio do trigo.
É embaçado mesmo...

MARCOS"TECORA" TELES disse...

Está dito! Assino embaixo!

MARCOS"TECORA" TELES disse...

Está Dito! Assino embaixo!

ZéSarmento disse...

Percebo pelo seu texto, e pela própria visão e entendimento que estou adquirindo pela quebrada cultural, que existe uma certa descriminação em quem consegue se destravar, se desenquadrar da lente da miséria e dar um salto de melhor qualidade de vida pela periferia.
Muitos dos que frequentam os saraus ou outros meios/pólos de cultura pela periferia vivem mais de sonhos do que se entregar a busca propriamente dita, para fazer acontecer sua arte, e quando ver alguém ir se distanciando da miséria, acaba achando que a pessoa está fazendo as coisas, que suas relações estão fora da ordem natural e podem ser promíscuas.
O fato é que não se deve dar ouvido a quem só sabe meter o pau em quem tá na luta e tenta sair do lugar comum.
A respeito das leis de isenção fiscal, todos sabem que são realmente direcionadas a quem tem boas relações e já têm um currículo de dar inveja, como aqueles diretores que tem acesso livre e negociação com a globo filmes. Eles pensam num roteiro, antes mesmo de pensar, já está aprovado, diferente de muitos diretores de cinema, teatro e outros seguimentos da arte que não são ainda tão conhecidos, esses ficam anos com um projeto embaixo do braço, inscrevendo-o em todos os editais, e às vezes nada conseguem.Lembro de quantos anos o Mojica (José Mojica Marins, Zé do Caixão com quem convivi bom tempo) demorou para ter o projeto do seu último filme aprovado, mais de 10 anos.A coisa é seria!Quando o cirque du soleil vem ao Brasil, tem uma puta isenção fiscal do governo federal, se ver na frente créditos da Petrobrás, Banco do Brasil, Votorantim e o escambau, mas ver se eles fazem espetáculos de graça para a população carente, não fazem, o ingresso custa uma fortuna.
Trabalhos muitas vezes com diretores de publicidade e curta ou documentário que todo ano inscreve projetos para uso da lei do audiovisual, Rouanet e também a lei de incentivo a cultural do município de São Paulo, a Lei 10923, lei que usei para editar alguns livros, e não conseguem, não que o projeto não seja aprovado por ser ruim ou bom, mas não conseguem empresas para investir em seus projetos,não são nomes populares e atrelados a grandes grupos da cultura paulista e carioca.Caetano Veloso mete o pau no Lula, um ano depois tá lá com quase dois milhões de verbas para fazer sua turnê, idem Bethania para fazer um blog, e assim são para todos.

Blog do Rob disse...

Irônicamente falando; Brasil, um país de todos!
É esse o slogan do nosso país, o que é lamentavel na minha opinião. E o pior de tudo, a midia nem se importar em fazer criticas a fatos como o que termina teu texto, mas toda vez que acontece alguma coisa ruim num evento dentro da periferia as criticas surgem aos montes, é falta de segurança, estrutura, deveria ter isso, deveria ter aquilo! Dinheiro para que de tudo certo ninguém se importa em oferecer.

edugodoy disse...

Vc encontrou um monte de idiotas, sabe p que serve os idiotas? Eles sao cumplices dos filhos da puta, por isso existem tantos idiotas, porque tem muitos filhos da putas, quem sao os filhos da puta? Sarney, Maluf, Jader Barbalho, Bradesco, Rede Globo.. os idiotas sao quem votam neles, quem fica na frente da tv vendo novela, BBB, sao manipulados, p deixar tudo como está. Eduardo Godoy

Anônimo disse...

Apoio e muito as ações feitas. Sou um bosta. Não faço nada pela periferia. Sou classe média e muito me orgulha ver projetos nascendo por iniciativa própria. Saindo da raíz. Com amor e dignidade. Respeito e vontade. É isso mesmo. Falar pouco e fazer mais. Ai se fosse assim aqui na Vila Mariana.

CEF 01 disse...

Aqui no Df é assim.
Todo mundo quer um pedaço da Estrutural!
Mas andar nas ruas e lutar na comunidade ninguêm quer,ouvir e tomar um café no barraco da Dona tânia,ninguêm aparece.
Ajudar os meninos a gravar um rap,ninguêm quer.

Desistir nunca,cansei de perder meus alunos e por isso estou nessa a 10 anos,sendo chamada de louca!

...Continua,Ferréz na humildade e na paz....

Mariana .
Estrutural-DF