Blog do escritor Ferréz

Matérias.

Salve rapa, hoje me chegou as mãos a Agenda cultural da periferia, que nas lojas é disputada logo pela manhã, já tem gente que entra perguntando da do mês que vem, então eu fui colocando a agenda no balcão quando um cliente mostrou o símbolo da 1dasul, para minha surpresa eles fizeram uma contra capa com as lojas da periferia no centro, fiquei muito orgulhoso e agradeço o espaço carinhoso que a Ação Educativa reserva pra gente, valeu mesmo.Já o Alexandre fez uma matéria para a folha on line e o link é esse, mais uma força na árdua tarefa de encher os pés de poeira por ai.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u717923.shtml
outra coisa boa, é a matéria que saiu na Carta Capital dessa semana, uma super matéria sobre a loja no Centro, e revista traz na capa a tragédia no Rio, e a frase: não culpem os céus.
É realmente uma pena que tantos moradores de comunidades tem que pagar até com a vida por uma administração que não previne nada, temos que rezar para não chover, rezar para não dar muito sol, o que o poder público é afinal? devia zelar pelas pessoas que pagam os impostos, e não só brigarem pela vaidade de sair na próxima eleição como vitoriosos, eles ganham, nós perdemos, não vejo nenhum deles com terra nos sapatos, com barro nas calças, com suor nas camisas, deles tenho nojo mesmo sendo tão limpinhos.
segue a matéria sobre a loja no centro.
No fim de uma manhã nublada, Fábio Martins passeia pela Galeria do Rock, famoso conglomerado de lojas de artigos musicais da região central de São Paulo. Uma vitrine repleta de títulos de literatura marginal dispostos entre peças de roupas desperta-lhe o interesse. Ele reconhece o vendedor atrás do balcão: é Ferréz, rapper, autor de nove livros, entre os quais Capão Pecado, em que retrata as agruras do Capão Redondo, bairro da zona sul onde mora.

Martins trabalha na Associação Lua Nova. Localizada na área rural de Araçoiaba da Serra, interior do estado, a ONG assiste mães adolescentes que moravam na rua. “Acabamos de ganhar uma biblioteca. Levarei alguns livros para as meninas conhecerem o Ferréz. Gostaria também de marcar uma palestra”, diz Martins. “Vou te mandar um texto que acabei de escrever sobre mães solteiras, literatura real, da vida real. E vamos combinar o encontro sim, mano”, agradece o escritor, de boné e camisa brancos, calça larga e olhar atento.

Ferréz tem recorrido à tênue fama literária para propagandear a 1daSul, marca de roupas e acessórios produzidos no Capão, que completou 11 anos em 1o de abril. O dinheiro amealhado com as vendas financia palestras literárias e projetos sociais na região.

Há poucos meses, a grife ocupa o número 40 da Galeria, no subsolo conhecido como andar do hip-hop. É o primeiro estabelecimento do prédio, que Ferréz frequenta desde menino, dedicado à literatura denominada marginal. “Pra quem mora na periferia, o centro é um lugar mágico. Quando vai ao centro, você sempre pergunta pro vizinho se ele precisa de alguma coisa”, situa.

Nas estantes da loja estão cerca de cem títulos, parte deles de autores periféricos. Consta da livrariaCronista de um Tempo Ruim, obra de Ferréz que inaugura o Selo Povo. “Trago também alguns livros do meu acervo, lidos mais de uma vez. Não gosto de segurar informação”, explica, ao ser perguntado sobre o que fazem na prateleira Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore, e O Dia do Chacal, de Frederick Forsyth. “Quando leio e comento com você, fortifico aquilo que aprendi. Esse amor é próprio da literatura marginal e dos escritores engajados.”

Ele cita a obra Egon Schiele na Prisão, série de aquarelas do pintor austríaco (1890-1918) concebidas em 1912. O preço de um exemplar novo é promocional: de 47 por 29,90 reais. Os livros de bolso custam 5 reais. “A literatura não pode ser um vinho caro, temos de fazer dela uma tubaína, para que todos possam provar.”

Ferréz acostumou-se a receber pedidos de ajuda, não apenas de clientes como Martins, mas de “escritores do gueto”. A abordagem se dá nas próprias lojas da 1daSul – a matriz fica no Capão Redondo e há um estande em Santo Amaro –, na internet e, por vezes, no meio da rua. Houve quem entregasse ao rapper poemas rascunhados na própria carteira de trabalho. Em outro momento um analfabeto lhe ditou cada um dos versos cunhados na cabeça. É aquilo que o escritor define como “litera-rua” ou “litera-cura”.

“Tenho companheiros que estão presos, conseguem me telefonar e recitam contos inteiros. Gato Preto, escritor baiano, é um dos melhores que conheço”, diz Ferréz. Aproxima-se da estante, resgata uma coletânea intitulada Literatura Marginal, lançada em 2005. Encontra Gato na página 51. Volta ao balcão e recita, em voz alta:

“Vou mostrar a Bahia que Gil e Caetano nunca cantaram/ Bahia regada a sangue real/ Que jorra com intensidade na época de Carnaval/ Falo do pescador que sai às três da manhã/ Pedindo força a Iemanjá e a Iansã/ Cortando as águas do mar da vida/ Querendo pescar uma solução, uma saída”.

A leitura é interrompida quando um rapaz, no corredor da galeria, o cumprimenta.

– E aí, mano Ferréz? Firmeza?

– Firmeza, mano. Satisfação.

A cena se repete algumas vezes ao longo da tarde. Reginaldo Ferreira da Silva, que assina Ferréz em homenagem a Virgulino Ferreira (Ferre) e Zumbi dos Palmares (Z), gosta de conversar. “Tem gente que passa só pra trocar ideia, é da hora pro meu trabalho.”

O estabelecimento, decorado com grafites e quadros dos artistas “da quebrada”, não ultrapassa os 4 metros de comprimento. Nele se avolumam roupas confeccionadas e estampadas por moradores do Capão Redondo.

Em uma cartolina branca há fotos detalhando o modus operandi do ateliê. As imagens serão impressas em um livro artesanal até o fim de abril. “Fazemos questão de explicar aos visitantes as origens da 1daSul.”

A empresa emprega cerca de 300 “parceiros”. Ferréz se orgulha disso: “Taí a parte mais bonita do projeto. Tem mano que reclama do preço do boné. É tudo artesanal, tá ligado? E se eu baixar o preço, vou repassar menos para as parceiras que ajudaram a costurar. É preciso que a rede funcione bem”.

O office-boy Rafael Cordeiro observa a vitrine. Atenta para a contracapa de um caderno que explica as origens da marca. “Da hora saber como funciona. Vi uns amigos usarem. Vou esperar o salário pra comprar esse ‘jaco’ (jaqueta) e algum livro aí.”

“A 1daSul é a farda do Capão”, descreve o vendedor da loja Davi Albino. O emblema da marca, que faz alusão a uma fênix, tornou-se uma identidade. “Tenho um amigo que foi para a praia dia desses, tava sem grana, mas usava um boné da 1daSul. O cara do quiosque o chamou: ‘Ei, irmão, cola aqui, cê é da quebrada, eu também sou, te pago uma cerveja’”, conta. “Já aconteceu comigo também: estava numa daquelas ladeironas da Vila Madalena quando um cara colou a moto na calçada: ‘Sobe aí, irmão’. Perguntei o porquê, não o conhecia. ‘Sua bombeta (boné) é da 1daSul, eu moro lá, mano, te dou carona’.”, relembra, entre risos. “Esse reconhecimento de sermos todos pelo bairro e de tentarmos melhorar o lugar onde moramos faz tudo valer a pena, tá ligado?”

3 comentários:

Anônimo disse...

o q falta eu passar na galeria e de tabela ir a loja ja que faz uma cara que não vou ai
um abraço.

japao disse...

100 limites pela periferia!!!
abço

AdRiAnO... disse...

Foda!