Blog do escritor Ferréz

Depois eu que sou louco

Depois eu que sou louco

Acordo as nove, um sol que dá irritação nas vistas, em vez de carro, vou de buzão.
Destino, matriz do DVD, precisa pegar a matriz.
Chego à Paulista às 11h30min, isso é que dá pegar o ônibus Paraíso.
Foi foda, lotado. Em cada ponto um fiscal, pra fiscalizar o que? A qualidade do serviço? Contar as pessoas para ver se está excedendo? Que nada, para empurrar e fiscalizar se a porta ta fechada, que se dane se sufocam, desde que não caiam.
Amanheceu novamente, dessa vez não tenho crédito no cartão magnético, o Kassab mudou as regras, tem que cadastrar, não pode isso, não pode aqui.
Peço a um amigo pra me levar, agora vou mandar prensar, tem dois anos que to fazendo esse documentário, que fala um monte de coisa, da minha carreira, dos meus corres na quebrada, da criação da marca, mas o objetivo é um só, mostrar que é possível dar certo vindo de Nazaré... quer dizer do Capão.
E o mais louco que foi como ter escrito meu primeiro livro, todo mundo foi saindo fora, ficou eu e minha vontade de ter um bagulho que contasse um pouco da minha caminhada.
Transito da porra, no caminho as frases dos pixadores pixam minha mente, “você é um escravo do trânsito” quente, é quente mesmo.
Mais pra frente, um desenho de um carroceiro, e escrito “ “não buzina, sou um agente ambientalista”.
Chego à produtora, depois de vários faróis fechados, guardas encarando, motoqueiros fechando, caminhões buzinando, e meu parceiro chiando da lonjura do lugar.
Não tem lugar para estacionar, ele vai ter que dar uma volta enquanto eu levo o DVD.
Entrego, entro no carro e saiu, mais trânsito, lembro do Alexandre de Maio que fez a capa e me ajuda, anda a pé também num corre da porra, vamos parar no Extra da marginal Tietê pra tomar um café, meu parceiro quer Mcdonalds, eu falo que é lixo, que é melhor um café e um pão de queijo, ele reluta, mas no final estamos comendo pão de queijo.
Entro no mercado, preciso de ração pro meu cachorro, a minha ração ainda tem, to andando e acho uns DVDs, ele leva um do Steve Wonder, acabei de sair da fonográfica, fica 3,00 reais pra prensar um, o do Steve tava 38,00, a pirataria é crime?
Bom, vou pagar, pego a fila pra compras abaixo de 20 itens, começo a andar no extenso corredor que me mostra doces, revistas em quadrinhos, revistas de moda, revistas para crianças e o que vejo? Um imenso spot da playboy com várias revistas da mulher melancia, nua, de lado só com duas estrelinhas no peito, ao lado uma revista da hello kit.
Na minha frente tem uma mãe, um menino de mais ou menos três anos olha a imagem, encara, não tira os olhos.
Atrás de mim uma menina olha também, me irrito, vou pro caixa, chamo o gerente, ele chega, eu falo que se ele não acha falta de ética uma revista com uma mulher pelada na capa ficar ao lado da hello kit e dos quadrinhos da Mônica e entre salgadinhos da Elma chips e doces, ele concorda, mas diz que a playboy comprou o espaço, eu digo que se é assim, eles tem que escolher um público ou a família ou a playbpoy, afinal mercado é lugar de família ou não é? e porque também não põe a Brasileirinhas, as chinesas taradas e todo tipo de pornô, ele concorda, pergunta se posso escrever numa ficha de reclamação, eu digo que sim, escrevo, ele diz que acha horrível, mas ninguém reclama.
Eu saiu, passo por uma lotérica, acho que to ficando louco, uma fila imensa para se comprar uma porra de jogo, ta acumulado, ta acumulado é o que todos comentam.
Eu grito. – vocês tão vacilando, ninguém ganha em São Paulo, sempre é uma cidade do interior, com 1.000 habitantes, vocês tão sendo enganados.
Um cara me encara, dá o dobro de mim, eu resolvo sair.
To chegando em casa, blitz, a policia revista todo mundo, mão no saco, mão no peito, mão na bunda, pergunta e restrição de caminhos.
Estou ficando louco?
Ligo a TV, gripe h1n1, gripe a gripe do porco, num sei qual é qual, mais gente morta, mais médicos reclamando, mais políticos mentindo, mais máscaras na TV, mais audiência, mais terceiro mundo, mais apresentadora loira.
E quando vou desligar vejo dois jogadores chorando, vão ganhar milhões e sair do Brasil, estão chorando por isso? tenho dó deles... mas eu sou louco.
Ferréz é considerado perturbado e está em regime semi fechado de vida periférica.
o semi aberto é concedido a ele em caso de leitura de manuscritos como Fante, Hesse e recentimente Invisíveis de Grant Morrisson.

6 comentários:

SARAU DA LITERATURA MARGINAL disse...

Sao Paulo feita de pedra cara, pessoas alienadas de mídia, transporte público(privado) nos leva ao nada...a cidade parou, grandes estaciomentos sao as ruas da capital....compactuo contigo a indignaçao de sobreviver em um lugar cinza e as vezes sem vida. Mais sou otimista em ver um lugar melhor para Sao Paulo...outra Sao Paulo quem sabe no meio da Lua..rs
Parabéns pelo progresso seu como homem e o reflexo disoto para periferia...valeu hermano.

Fernando lá do Sarau Vila Fundao

É hora de voce colar para apresentar seu novo livro de cinco reial para os manos titio...o Sarau é nosso, do povo, de todos os guetos do mundo ..cola que vc é +1 como todos nós.

Unknown disse...

eu gosto muito do que você escreve!

. disse...

Eai Ferréz beleza.
To procurando dicas de como fazer uma letra de funk carioca. Acho que to ficando louco. Fomos cantar na Favela Pantanal no Jardim Luso, inclusive cantamos uma do Racionais em homenagem aos manos ( já que no Brasil ninguém homenageia gente verdadeira). Quando acabou a apresentação, eu e os manos do meu grupo, ficamos assistindo os outros manos, foi ai que observei umas minas gritando, falando que queriam ouvir FUNK. Ai que tá o problema, não sei se falo de crime organizado, bunda, peito, filme pornô ou de sacanagem na minha letra de FUNK. Caso eu não esteja completamente louco, vou continuar cantando RAP. Abraços.

Unknown disse...

ola tudo bem?
estou deixando este comentario pra ver c vc pode entrar em contato por uma coencidencia
eu me chamo Diego martins Ferrez
e nunca vi ninguem "alem das pessoas da minha familia" com este sobrenome.
Ficaria muito grato em conhecer sua quebrada e trocar uma ideia com vc valew

Alberto Marlon disse...

Elogiar a atitude de ser um escrivinhador marginal seria cair no lugar comum das bajulações. Acredito que o lance seja esse que você tão bem está fazendo: expor o que muitos não querem ver. Avante!

Catherine disse...

Depois de ler essa postagem tô virando sua fã.
Cara, amo a forma que você escreve o que você escreve... Acho que farei outro blog menos subjetivista pra escrever tentar escrever textos tão fodas quanto os seus.

É deprimente esse lugar que a gente vive né?
Eu amo e odeio essa cidade ao mesmo tempo... é estranho.


Abraço!
Estarei seguindo fielmente ;)