Blog do escritor Ferréz

A mili.

Salve rapa da Litera-rua.
Estamos a milhão nesse fim de ano, a nova loja que abrimos no centro de Sampa City, na galeria do Rock, 24 de maio tá firmeza agora, Ufa! depois de tanta corrida. O legal é que além das roupas da 1dasul, está vendendo muito livro, de vários autores, tivemos que repor vários títulos.outra novidade é o lançamento do Manual Prático do ódio em Pocketbook no México, firmamos contrato com a editora Avra, e a Editorial Sur+, que vão fazer barulho com o livro por lá.
Aqui, o Cronista está se esgotando tão rápido que a gráfica vai ter que girar de novo, e um espanto até pra mim que fiz o livro, estou super orgulhoso, podemos falar com todas as letras que o Selo Povo, Já deu certo!
Pra fechar com chave de ouro, escrevi um texto especialmente para o Esperanto, que vai sair em dezenas de países. confere o conto ai e depois um techo traduzido.

O país das calças beges

O sol é pá e tchum, parece que vai queimar minha retina.
Faz tempo que não faço aquele ato pau no gato.
Dei o saco com a camisa, escova de dente, par de chinelos e o velho short pra um parceiro que sempre teve menos que isso.
Na rua é tanta pagação e na prisão a gente aprende em primeiro lugar a humildade.
Tem que dividir pra dormir, pra usar o banheiro, pra comer, pra saber sair na hora certa e ficar na hora que também estiver no pá.
Não vou querer nenhuma lembrança desse passado recente, agora tenho à minha frente mais futuro, pelo menos assim espero, acho que já saí definitivamente da prisão e tô longe do cemitério.
Tenho liberdade para ir aonde quiser, agora finalmente a tenho.
Tô com o pensamento na milisquência da sequência do ato antiviolência, num vou mais seguir para matar.
Na primeira noite fui humilhado, dormi no boi, mas o cara que fez a brincadeira, nunca mais vai fazer com ninguém, tirar sarro da cara de ladrão não tem perdão.
Entrei por causa de um assalto e me formei em homicídio, isso que é faculdade.
Vários buchichos durante o dia, várias mulas durante a noite, neguinho perde a linha rapidinho na brincadeira de cadeia, aí é só lamento, a gente cobre na manta e dá um pau geral, pra aprender a entender as risada do parceiro.
Agora é outra fita, outra vida. Daqui pra frente é só progresso.
Não tenho o dinheiro da condução e resolvo pedir uma carona.
Talvez pelo rosto desgastado pelo tempo de cela, talvez pelas roupas velhas, encardidas, o motorista não se comove e me chama de vagabundo.
Vagabundo não, eu tô no pá de correr pelo certo, mas também num vou aguentar tiração de ninguém, muito menos de Zé Povinho que puxa saco de dono de empresa, faz seguinte, enfia esse buzão no seu rabo, vou na caminhada pra num dar uma de louco logo agora.
Foi um julgamento quase tão rápido como todos são, um juiz que ria da minha cara, ria como se soubesse como é o mundão lá fora, longe de ajuda de pai, longe de facilidade pra estudar.
Num guento mais andar, pego o próximo buzão, deixo passar mais uns três pontos e então peço para passar por baixo.
O cobrador emenda um palavrão.
Eu, um ex-157, abaixo a cabeça e fico com a vergonha e com a liberdade.
Tudo está mudado, as coisas mudaram muito, não conheço as ruas, não conheço as lojas, nem os novos modelos de carros, os panos e as cores dos bagulhos também tão a milhão, e até o jeito das pessoas mudou, ninguém nem olha mais na bolinha do olho do outro.
As músicas... o que é mais estranho são as músicas, bagulho louco.
Estou pálido, branquelo mesmo de tanto não ver o sol, tiro a camisa para pegar um pouco, muitos que passam pela calçada me olham, talvez seja a pele quase verde, talvez as tatuagens adquiridas com os anos de ósseo, talvez a cara de monstro que não dá pra esconder.
Tenho que vê-la, tenho que chegar em casa e ver minha pequena, faz tanto tempo que parou de me visitar, talvez tenha ficado doente, talvez voltado a estudar, sei que foi difícil de uns anos pra cá.
Mas tô ligado que ela me ama, coração de vagabundo bate na sola do pé, e dá pra sentir uando o bagulho é de verdade.
Telefone não atende mais, talvez tenham cortado, sei que ela batalha muito para manter a casa, eu sei tudo isso, mas tenho um nó na garganta, uma saudade doída, e tô a fim de perdoar ela, ficar visitando cadeeiro é barra, os pé de urso examina, humilha os familiá.
Chego em casa, finalmente, parece que foi ontem que saí daqui, pouco mudou na favela, até os barraco num melhorou nada, a porta do meu barraco me dá uma vontade de nunca mais sair dele, aquela saudade do café com leite, pão esquentado no final da tarde, jogo da seleção, uma cerva com os parceiro, e o no quintalzinho dos fundos um churrasco pra galera, comemorar minha saída, minha liberdade.
Na viela alguns abraços, saudades, demonstrações de surpresa, ninguém imaginava que eu ia voltar. Que um dia eu iria voltar para lá, confesso que percebi que teve gente que até se espantou, tipo me esqueceu, falou que tava surpreso, mas na verdade tava com vergonha de nem se lembrar de mim, tudo bem, todo mundo tá no seu corre, ninguém deve ter tempo de lembrar assim de correria.
Gente que pensou que morri, gente que pensou que fugi e saí por aí nesse mundão.
Dentro de alguns dias serei um incômodo, serei um a mais, um cara que serra cigarro, que pede um copo de pinga, que vai na casa do parceiro que está melhor e pede uma pistola pra fazer um trampo.
Dentro de alguns dias eu vou ser a porta fechada na cara, a campanhia não atendida, a conversa não continuada, o sussurro — tá vendo esse aí? É um bosta, um nada.
Bato no barraco, não tenho chave, não tenho como entrar, bato e bato com mais força, uma vizinha sai e pergunta o que estou procurando.
Digo que minha esposa, a vizinha abaixa a cabeça e fala baixinho que ninguém mora mais ali, que o barraco tá pra vender.
Não acredito e quero ouvir toda a história, ela não sabe explicar, diz que a mulher saiu com um menino e com um taxista, eu tô com um nó na garganta, tô respirando alto, suando, ela diz que a mulher estava há algum tempo namorando, que ela um dia chegou, pegou as poucas coisas, deixou a venda do barraco sobre sua responsabilidade e se foi junto com um homem.
Num deixou telefone, nem nada?
Nada! Liga de vez em quando pra ver se vendi o barraco, deixou só um número da conta pra depositar o dinheiro do barraco, me prometeu uma parte se eu vendesse.
Abaixo a cabeça, ela agora pesa uma tonelada. Minha casa caiu, meu mundo acabou. O que vou fazer nessa longa estranha caminhada.
Ando pelas vielas, pelas ruas principais, e não acho nenhuma alfaiataria, foi o que aprendi na cadeia, ser um alfaiate, logo eu, né? Que nunca me consertei na vida.
Eu sou um homem livre, mas sem dinheiro no bolso isso não importa muito eu sei.
O apresentador berra que somos animais, não sabem que, em muitas cadeias desse país, os animais como eu doam um dia de sua comida por semana pras pessoas que precisam, os famíliá vai lá buscar. Quem desses aí que vive falando doa um dia da semana de comida pra alguém
Eu vejo que esses apresenta-a-dor de merda todos pedem pra prender as crianças, antes de eu ir pra cadeia, quando uma criança colava a gente ria, falava com ela, agora, quando vem chegando uma criança, parece que ela vai pedir algo, agora eu vejo as pessoas com medo, segurando a bolsa, eu não sou mais vilão, eu não causo mais pavor do que um menino de doze.
Eu tô ficando chapado, tô com fome, mas reflito. As crianças não sorriem mais na rua, eu prevejo mais gente portando pistola, colete, carro blindado, cada um correndo pelo seu.
Vejo um cara empurrando, um cara sozinho, ninguém ajuda, ninguém cola, eu num tô entendendo nada.
Tudo mudou, tudo tá mudado, as coisas envelheceram, perderam a beleza, as pessoas ficaram frias, olhos para baixo, cabeças para o chão, um dia eu ouvi alguém dizer um bom dia para um jornaleiro, quase chorei.
Eu tô com fome, tento ligar de novo, o telefone não atende, vou dar um rolé no Centro, acabei de encontrar um parceiro, ele disse que não tem como somar comigo, disse que tá cheio de gente dando multa, na minha época ajudar os outros não era multa, aqui na quebrada eu não arrumo nada, não posso mexer em nada, se não vou ser cobrado, tem lei por aqui agora, é o que me disseram.
Eu tô livre, eu tenho minha liberdade, vou chegar no centro, talvez eu a perca.
Eu fiquei preso, pode crê, talvez eu volte para lá, porque aqui fora num tem ninguém solto mesmo.

Confere ai um pequeno trecho em Esperanto.


La suno estas pah! kaj tĉun!, ŝajnas, ke miaj retinoj brulis.
Antaŭ ne longe, ke mi ne faris tiun agon "bastono en la katon".
Mi donis la sakon kun la ĉemizo, dentbroso, paro da pantoflo kaj la maljunan ŝorton al partnero, kiun ĉiam havis malpli ol tiun.
En la strato, estis nur envio, sed en la prizono oni lernas unue la humilecon.
Oni kunprofitas por la dormo, por uzi la banĉambro, por manĝi, por scii la bona horo, kiun havis la pah!

Ferréz é Escritor e está preso em regime semi-aberto na periferia de São Paulo há 33 anos.

Loja 1DASUL Galeria 24 de maio, loja 40. (mesmo local onde antes era a Porte Ilegal)

4 comentários:

Unknown disse...

Saluton Ferrez.

Belega via laboro!
Kiam la libro estos preta avertu min!
Bonan laboradon kaj antauxen!

Amike:
Fabjo (Pietro von Herts).´.

Diário de Obra disse...

Ferrez,

Sempre te acompanho pelo site e ainda não li nenhum de seus livros. Ainda.

Sempre me falaram muito bem do Capão Pecado.

Após esta leitura, passo a acreditar em cada palavra de elogio.


Parabéns.

Anônimo disse...

Enquanto vocês estão a mili. Veja só!
QUEM PODE NOS SOCORRER?
Por: Germano Gonçalves.

Nós aqui da periferia de São Paulo Zona Leste, estamos indignados com a ação da Policia Militar.
Acontece que aqui no bairro do Pq. São Rafael tem um restaurante e casa do norte bem conhecida e Point da juventude, mas os jovens não podem se divertir, pois a PM acaba com a festa.
O pessoal coloca o som em frente ao restaurante e ficam dançando curtindo numa boa, e isto não é tarde da noite não, mas mesmo assim a policia chega, não sabemos como e já chega soltando splay de pimenta, dando borrachada em todos, soltando balas de borrachas e tudo o mais que eles acham que podem só porque tem o poder nas mãos, e eu confesso os jovens não fazem nada alem de curtir o som alto e se divertirem, pois aqui no bairro é a única opção de lazer que o pessoal tem, aí vem a PM como a dona da razão e espanta o pessoal agressivamente.
Qual é os jovens não tem direito de divertir, o local aqui digo: O restaurante e casa do norte são freqüentados por famílias, e quando a PM chega eles não querem sabre quem esta freqüentando o local e não respeita ninguém, as mães que estão com as crianças ficam apavoradas.
Se falarmos com a subprefeitura de são Mateus eles dão razão para PM, e nós os jovens e os que querem freqüentar a casa do norte como é que fica, sou da opinião de que os jovens têm de curtir, tem que se distrair, fazer o que eles gostam desde que estão respeitando a todos e olha que o horário em que os jovens ficam não ultrapassa das 00: 00h. É um verdadeiro absurdo o que a PM está fazendo aqui.
Estou lhes enviando este para que vocês fiquem sabendo do que se passa nas nossas periferias e ninguém, mas ninguém mesmo quer ver o nosso lado.
E afirmo o pessoal que curti aqui no Pq. São Rafael só quer distração e animação nos fim de semana, aí chega a PM e acaba com tudo.
Em particular um PM chegou para mim e disse:
- Aqui só freqüenta nóia.
Olha só vê se pode, se eu lhes relato que é um ambiente familiar, os jovens curtem sim, mas é como falei na boa.
Se isto poderia chegar até a alta mídia, gostaria muito, pois eu não sei ainda o caminho pra denunciar essa cambada de macacos (PM).
Valeu! Um salve para todos, quaisquer coisa entre em contato, que darei mais informações.

Anônimo disse...

Enquanto vocês estão a mili, veja só!
QUEM PODE NOS SOCORRER?
Por: Germano Gonçalves.

Nós aqui da periferia de São Paulo Zona Leste, estamos indignados com a ação da Policia Militar.
Acontece que aqui no bairro do Pq. São Rafael tem um restaurante e casa do norte bem conhecida e Point da juventude, mas os jovens não podem se divertir, pois a PM acaba com a festa.
O pessoal coloca o som em frente ao restaurante e ficam dançando curtindo numa boa, e isto não é tarde da noite não, mas mesmo assim a policia chega, não sabemos como e já chega soltando splay de pimenta, dando borrachada em todos, soltando balas de borrachas e tudo o mais que eles acham que podem só porque tem o poder nas mãos, e eu confesso os jovens não fazem nada alem de curtir o som alto e se divertirem, pois aqui no bairro é a única opção de lazer que o pessoal tem, aí vem a PM como a dona da razão e espanta o pessoal agressivamente.
Qual é os jovens não tem direito de divertir, o local aqui digo: O restaurante e casa do norte são freqüentados por famílias, e quando a PM chega eles não querem sabre quem esta freqüentando o local e não respeita ninguém, as mães que estão com as crianças ficam apavoradas.
Se falarmos com a subprefeitura de são Mateus eles dão razão para PM, e nós os jovens e os que querem freqüentar a casa do norte como é que fica, sou da opinião de que os jovens têm de curtir, tem que se distrair, fazer o que eles gostam desde que estão respeitando a todos e olha que o horário em que os jovens ficam não ultrapassa das 00: 00h. É um verdadeiro absurdo o que a PM está fazendo aqui.
Estou lhes enviando este para que vocês fiquem sabendo do que se passa nas nossas periferias e ninguém, mas ninguém mesmo quer ver o nosso lado.
E afirmo o pessoal que curti aqui no Pq. São Rafael só quer distração e animação nos fim de semana, aí chega a PM e acaba com tudo.
Em particular um PM chegou para mim e disse:
- Aqui só freqüenta nóia.
Olha só vê se pode, se eu lhes relato que é um ambiente familiar, os jovens curtem sim, mas é como falei na boa.
Se isto poderia chegar até a alta mídia, gostaria muito, pois eu não sei ainda o caminho pra denunciar essa cambada de macacos (PM).
Valeu! Um salve para todos, quaisquer coisa entre em contato, que darei mais informações.